Archive for julho 2014
Consideração sobre Amor
Ontem fomos ao teatro. Pensei que veria
e ouviria outras coisas mais sobre um tema tão interessante que é Amor. Não que
tenha sido ruim a peça, pelo contrário, foi muito boa. Mas a despeito de amor e suas influências, tenho também minhas palavras a dizer. E como não sou um crítico de teatro, não falarei diretamente sobre ele, mas sim sobre o tema em si.
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Em uma pequena discussão em que
me senti necessário adentrar, falávamos sobre as influências de outros autores
em nossas decisões do cotidiano, bem como a formação de nosso próprio
intelecto e quem seríamos então, se pensamos e agimos conforme palavras e ideais há muito tempo já escritas.
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No mundo, como um todo, existe
uma teia gigantesca, que cobre toda a extensão do planeta, e cada ramificação
representa um ideal, uma crença, uma lei entre outros conjuntos de ideologias e regras.
Nós, somos impossibilitados de poder absorver toda essa teia, a vida seria
impossível caso conseguíssemos. Portanto, durante toda nossa existência,
passamos a escolher alguns elementos desta imensa teia, e a utilizamos no nosso
dia a dia, na nossa escrita, nos nossos pensamentos e na expressão de nossos sentimentos. Mas, e o que isso significa
então? Significa que realmente, nós não somos imparciais, pois cada ponto desta
teia, foi tecida por várias pessoas, sendo filósofos, poetas, visionários, políticos,
pastores, monges e afins. E a cada momento em que absorvemos uma de suas ideias
parece que nos aproximamos de quem as criou. Porém, o que isso importaria?
Utilizarei alguns exemplos para demonstrar minha descrença na idolatria que por
vezes tentam nos impor por apenas pensarmos da mesma maneira que outros autores
passados.
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Hermann Hesse, escritor alemão
descreve seu compatriota Goethe em um de seus textos:
“(...) Estava para Goethe o amor a humanidade. Ele foi um cidadão e patriota do mundo internacional do pensamento, da liberdade interior, da consciência intelectual, e nos seus melhores momentos de reflexão ascendia tão alto que o destino dos povos não lhe aparecia mais nos seus detalhes, mas como movimentos submetidos a um todo”
Goethe foi um poeta apaixonado
por tudo e todos. Não era um cidadão perfeito, e se estudarmos sobre sua vida e
obra, veremos pontos positivos e alguns negativos sobre sua trajetória.
Contudo, jamais desmereceríamos um elemento tão importante e que ainda vive no
coração daqueles que acreditam em Amor. Com esta pequena descrição de
Hesse, podemos imaginar algumas das ramificações criadas por Goethe, e que
foram absorvidas pelo autor que o descreve, e que também teceu sua parte na
eterna teia de ideias que hoje temos pairando sobre nós. Porém, Hermann Hesse
foi um pouco mais profundo nos autores alemães, e se prontificou a também
registrar, seu ponto de vista sobre um icônico personagem que muitos parecem
perseguir como se fosse um super-homem ou algum outro herói qualquer:
“Zaratustra é o ser humano, é o eu e o tu, é o homem que procuram em si mesmos, o sincero, o que não se deixa seduzir”
Das teias tecidas por Nietzsche,
Hesse nos apontou uma delas, que é a de Zaratustra, e que talvez seja o melhor
exemplo para enfim delimitar meu pensamento. Muitos se inspiram no personagem
de Nietzsche e parecem tentar ser como ele, e acabam por não perceber, que essa
nunca foi a intenção do autor. E não me prolongarei nesse trecho, por
considerar que a pequena citação do texto “O retorno de Zaratustra” de Hesse,
traduza perfeitamente o que gostaria de dizer até o presente momento.
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Mas daí, voltemos ao amor.
Sabendo então que nossas vidas são formadas por um conjunto de ideias que nós
mesmos decidimos quais, quando e onde as utilizar, e que apesar do fato delas terem
sido criadas por alguém que admiramos, isso ainda continua sendo extremamente
subjetivo. Você pode tratar sobre Amor como Goethe tratava, e ainda continuará
sendo você mesmo. Goethe morreu em 1832, o que resta são suas obras, e ao
lermos elas, continuamos sendo nós mesmos, pois repito: Goethe está morto!
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Quando ouvimos sobre amor, por
mais que sejam belas as histórias narradas pelos poetas e as peças de teatro que
nos emocionam, quando saímos para a realidade, para o lado exterior, vemos que
tudo aquilo ainda é obsoleto. Não podemos tratar nossas vidas como poesias
escritas a alguns séculos atrás, nem tampouco baseado nos modelos
contemporâneos de relacionamentos. O que parece-me ser real e cabível é
vivermos o presente. O presente onde escolhemos e criamos nossa própria teia
ideológica, mas que não permite que mudemos a pessoa que somos. E ao tomar
consciência disso, paramos com todas as comparações possíveis. Deixamos para
trás o passado, as ramificações que outrora nos apegamos, e olhamos para
frente, utilizando o que de bom permanece, e deixando para trás tudo aquilo que
não nos serviu em outros momentos.
Se você pensa amar alguém, não
pode compará-lo a seu ex amante. Não pode compará-lo com o galã da novela das 8
(e que começa às 9). Se você ama alguém, você tem que o ver como um ser único, tal como realmente é, e deixar que o futuro aconteça sem que as chagas do passado interfiram no
decorrer da união criada. Quando se entra em um novo relacionamento, baseando-se em
experiências anteriores, como se já estivesse esperando o jovem cometer um erro
que outrora já foi seu motivo de sofrimento, então talvez o relacionamento já
esteja acabado, e que indo mais além, talvez nem sequer exista de fato um amor
pelo indivíduo. Seria possível dizer que existe apenas uma sombra do passado
que você gostaria de rever e transformar naquilo que nunca pode ser. Condenando
o presente a jamais se desenvolver como algo novo, mas sim como uma eterna
repetição daquilo que você nunca pode alcançar. Prendendo a sua própria existência em um loop eterno, da qual nunca se sairá sem outra nova cicatriz.
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Por que será temos tanta
dificuldade em esquecer o passado, cessar as comparações e de viver algo
plenamente novo? Será que nossas leituras servem para formar nosso intelecto,
ou para interferir nas nossas atitudes?
Se um dos objetivos da filosofia é justamente a expressão racional de nossos sentimentos, por qual motivo a utilizaríamos como forma de comparação a algo que ainda estamos vivendo, e que pertence ao futuro? É preciso que sejamos nós mesmos.
Carregamos todas as ideias que absorvemos desta enorme teia, mas temos que ser
fiéis a nossa existência. Admiro os poetas, admiro aqueles que buscaram a
paz mundial, a paz espiritual, aqueles que não desistiram de seus amores. Muitos
nomes serão lembrados nos livros, nas escolas e academias, porém, o que isso me
importa, se eu, um morador do interior sul mineiro, que sou apenas mais um estudante, me sinto apaixonado pela linda garota que outrora me concedeu um
beijo, e que me elevou aos céus, me fazendo abrir os olhos para as estrelas que
brilham no infinito universo a qual pertencemos e me fez sentir tal como sou, um simples ser em busca da felicidade, e que encontrou amor em seus abraços? E se essa garota nunca
escreveu um livro, tal como eu. E se ela já viveu o mesmo tempo que minha
pessoa, e igualmente sofreu por amor, e igualmente sorriu por felicidade? O que importa me o passado se hoje, em meus braços ela estará novamente?
Pois no fim das contas, talvez apenas isso me importe: Te abraçar novamente e sentir o suave toque de seus lábios junto dos meus.
E se me permite, finalizarei este texto, parafraseando o grande Goethe, eterno recriador de amor:
"...Então, voarei ao seu encontro, enlaçando-a, e ficaremos em face do eterno, unidos por um beijo sem fim..."
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